A busca por cemitério de escravizados que 'desapareceu' em Salvador: 'Maior banco de DNA do mundo'
Ativistas destacam a importância histórica do Cemitério do Campo da Pólvora, que abrigou 100 mil sepultamentos, muitos de personagens históricos da luta pela liberdade. Pesquisa arqueológica recente confirma a localização do cemitério, promovendo um gesto de reparação histórica e memória coletiva.
"Cemitério desaparecido a 250 metros", é a mensagem de ativistas em Salvador, próximo ao Campo da Pólvora.
O cemitério, que funcionou por 150 anos, era o primeiro público da cidade, destinado a pessoas excluídas, incluindo escravizados.
Desativado em 1844, o local abrigou cerca de 100 mil pessoas, com destaque para líderes de revoltas históricas como a Revolta dos Búzios e a Revolta dos Malês.
A pesquisa arqueológica, liderada pela pesquisadora Silvana Olivieri, foi motivada pela busca da memória do cemitério. Documentos históricos revelaram sua localização, que fica sob o estacionamento do complexo da Pupileira.
A Santa Casa da Misericórdia da Bahia, responsável pelo local, alegou não houve apagamento intencional da história. Contudo, a falta de documentação e a resistência à pesquisa levantaram questionamentos.
Após negociações com o Ministério Público da Bahia, as escavações começaram em maio de 2023, e a pesquisa confirmou a presença de ossadas e materiais funerários.
O cemitério foi registrado como sítio arqueológico, conhecido como Cemitério dos Africanos, o que impede novas construções na área.
Essas descobertas levaram à criação de um Comitê para a Salvaguarda de Cemitérios de Escravizados no Brasil, com o objetivo de promover reparação histórica.
Jeanne Dias, arqueóloga, destacou a importância do reconhecimento do local como um passo para restaurar a dignidade a esses mortos.