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A crença espírita no 'Vale dos Suicidas' que angustia parentes em luto

A série "Suicídio & Fé" explora como diferentes religiões no Brasil abordam o suicídio e o impacto dessas crenças nas famílias enlutadas. A experiência de Maria Cecilia destaca o desafio emocional enfrentado por aqueles que perderam entes queridos para o suicídio, especialmente dentro da doutrina espírita.

A série "Suicídio & Fé" explora o tabu religioso sobre o suicídio, com enfoque nas principais religiões do Brasil.

Maria Cecilia Cencini, tradutora de 63 anos, possui uma coleção extensa de livros espíritas, mas nunca conseguiu ler Memórias de um Suicida, da médium Yvonne do Amaral Pereira. O livro retrata o sofrimento no plano espiritual de almas que cometeram suicídio.

Após a morte do filho em 2021, Maria Cecilia se afastou ainda mais dessa leitura. Ela acredita que o filho foi perdoado por Deus e questiona a perspectiva espírita tradicional sobre o suicídio, considerado um ato repreensível.

O suicídio tem sido visto como um pecado pela Igreja Católica e as igrejas evangélicas, com repercussões nos rituais funerários e no tratamento social do tema. Dados de 2022 revelam um aumento nos suicídios no Brasil, totalizando 16.262 mortes.

Textos espíritas de Allan Kardec abordam o suicídio como uma transgressão às leis divinas, implicando punições no plano espiritual. O livro O Céu e o Inferno menciona "castigo" para suicidas, enquanto O Livro dos Espíritos diferencia os "voluntários" de aqueles que não têm controle.

Celia Arribas, historiadora, destaca a necessidade de uma visão mais ampla do suicídio e a influência da herança católica no espiritismo. Membros da sociedade espírita discordam da ideia de um "Vale dos Suicidas", enfatizando que a abordagem deve ser mais compreensiva.

Maria Cecilia procura entender a perda e acredita que seu filho está aprendendo no plano espiritual. Ela transformou o quarto dele em escritório, refletindo sua crença de que tudo acontece por um propósito divino.

O espiritismo no Brasil tem 3,8 milhões de adeptos, com um aumento notável desde 2000, refletindo uma forte circulação de simpatizantes e leitores.

Bruno, destaque na reportagem, perdeu um irmão para o suicídio e se questiona sobre as consequências espirituais desse ato. Ele buscou entendimento no espiritismo após a tragédia, em busca de conforto sobre o destino do irmão.

A psicóloga Karen Scavacini ressalta que práticas religiosas podem ajudar na prevenção do suicídio, mas também podem causar sofrimento se forem ligadas à culpa e vergonha. Muitas famílias buscam respostas nas cartas psicografadas.

Conclusão: A relação entre fé e suicídio provoca debates sobre a compreensão do luto, a misericórdia divina e a saúde mental. Iniciativas únicas, como o CVV, mostram a necessidade de discussão aberta e apoio à vida.

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