A crise silenciosa do dólar: endividamento e tarifaço complicam hegemonia dos EUA?
Volatilidade nos mercados reflete preocupações sobre a sustentabilidade fiscal dos EUA. Analistas destacam que a crescente desglobalização e o aumento de moedas alternativas desafiam o domínio do dólar.
Mercados Globais Voláteis
Nas últimas semanas, os mercados globais enfrentaram grande volatilidade após o anúncio de Donald Trump, em 2 de abril, sobre tarifas comerciais recíprocas a mais de 180 países. Ele justificou a medida como necessária para corrigir acordos comerciais que prejudicaram a indústria americana.
Após o "Dia da Liberdade", as bolsas americanas caíram, as taxas dos títulos soberanos subiram e o dólar perdeu valor. Analistas da XP Investimentos apontam que parte dessa movimentação pode ser temporária, dependendo das definições sobre as tarifas, especialmente entre China e Estados Unidos.
O Fim do "Privilégio Exorbitante"
O "privilégio exorbitante" dos EUA surgiu em 1944, com o Acordo de Bretton Woods, tornando o dólar a principal moeda de reserva. Desde então, os EUA se financiaram com condições vantajosas devido à demanda constante pelo dólar. Em 1971, Nixon rompeu o vínculo do dólar com o ouro, mantendo sua posição dominante no sistema financeiro global.
Entretanto, esse privilégio enfrenta dificuldades, como a dívida pública superior a US$ 36 trilhões (122% do PIB) e déficits fiscais que superam US$ 1 trilhão por ano. A estrutura de gastos públicos elevados deve persistir, e a polarização política dificulta acordos para controlar os gastos.
Desglobalização e Mudança nas Reservas
A desglobalização e tensões geopolíticas levaram países a buscar autonomia em suas cadeias produtivas e diminuir a dependência do dólar. A China, por exemplo, incentiva o uso do yuan em transações comerciais. Essa mudança sugere um sistema monetário multipolar, questionando o domínio americano.
Desafios Futuros e Inovação
A reestruturação das tarifas e a incerteza nas negociações comerciais afetam o valor do dólar. Riscos incluem menor demanda pelos leilões do Tesouro e potencial aumento dos juros. Apesar disso, o ambiente corporativo americano permanece vibrante, com liderança em inovação e tecnologia.
A perda da posição dominante dos EUA dependerá da capacidade de inovação e adaptação. A XP Investimentos destaca que, embora ainda possuam um "cartão de crédito dourado", os sinais de desgaste estão evidentes e a confiança pode não ser eterna.