A época em que o imperador japonês era mais venerado no Brasil do que no Japão
Discurso de Hirohito marca transição espiritual no Japão pós-guerra, mas sua reverência persiste entre imigrantes no Brasil. A relação entre comunidade nipônica e a figura imperial reflete um nacionalismo enraizado, mesmo décadas após o conflito.
Em 1º de janeiro de 1946, o imperador japonês Hirohito fez um histórico discurso, que marcou o fim do culto ao imperador como divindade no Japão após a derrota na Segunda Guerra Mundial. A mensagem, imposta pelos vencedores, informou que os laços com os súditos não eram baseados na mitologia.
Embora os japoneses no Japão enfrentassem a realidade da derrota, os imigrantes japoneses no Brasil não acreditaram inicialmente na notícia. Com escasso acesso a informações, muitos continuaram a venerar Hirohito como uma divindade durante anos.
Hoje, a cerimônia de entronização do imperador Naruhito em Tóquio reaviva sentimentos nacionalistas, especialmente entre descendentes de imigrantes no Brasil. Para o professor Ricardo Mário Gonçalves, o respeito pela figura do imperador é mais forte nas famílias de imigrantes do que no próprio Japão.
O xintoísmo, religião principal do Japão, mescla rituais de fertilidade e histórias de divindades. No passado, o xintoísmo de estado buscou unir o povo japonês sob ideais nacionalistas, e chegou ao Brasil com imigrantes na década de 1900.
A participação dos imigrantes na Segunda Guerra levou a uma perseguição intensa. O Shindo Renmei, grupo nacionalista, atacou e matou imigrantes que reconheciam a derrota do Japão, sendo responsável por centenas de crimes violentos.
As novas gerações de descendentes de japoneses no Brasil passaram a ver o imperador como uma figura simbólica, sem poder espiritual. Algumas práticas religiosas, como o xintoísmo, se misturaram com outras tradições, mas o vínculo com a história imperial enfraqueceu ao longo do tempo.
O impacto dessa história tem ressoado mesmo décadas após a guerra, com relatos de famílias brasileiras ainda acreditando que o Japão havia vencido o conflito, refletindo como a fé continua a influenciar percepções e identidades.