A seca devastadora que acirra 'guerra por água' entre EUA e México
Moradores de San Francisco de Conchos fazem oração em meio à seca severa que afeta suas terras há 30 meses. A disputa sobre o uso da água entre México e Estados Unidos se intensifica em meio à escassez crítica no região.
Seca intensa afeta San Francisco de Conchos, México
Após trinta meses consecutivos sem chuva, moradores de San Francisco de Conchos, Chihuahua, se reúnem para oração à margem do Lago Toronto, com o nível da represa La Boquilla em sua capacidade crítica: apenas 14%.
Rafael Betance, monitor voluntário da represa, destaca que a última enchente ocorreu em 2017 e alerta sobre a necessidade urgente de água. A comunidade, enfrentando temperaturas de até 42°C, implora por intervenção divina, mas poucos acreditam em melhoras.
Conflito hídrico entre México e Texas
O México deve enviar 430 milhões de metros cúbicos do rio Grande aos EUA, conforme tratado de 1944. Em troca, os EUA fornecem 1,85 bilhão de metros cúbicos do rio Colorado. Contudo, o México não cumpriu suas obrigações na maior parte do século 21.
Pressionado por legisladores do Texas, o governo dos EUA ameaça reter água, enquanto o ex-presidente Trump denunciou o México por "roubar" água e considerou tarifas e sanções.
A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, reconheceu a dívida hídrica, mas adotou um tom conciliador. Até agora, foram transferidos 75 milhões de metros cúbicos de água, uma fração da dívida total.
Conflitos locais e desafios agrícolas
Em setembro de 2020, confrontos resultaram na morte de dois mexicanos ao tentarem impedir o redirecionamento da água. Agricultores do Texas, como Brian Jones, acusam o México de não cumprir o acordo, enquanto agricultores mexicanos alegam que a falta de água impede o envio ao EUA.
As práticas agrícolas ineficientes também são uma preocupação. Jaime Ramirez, ex-prefeito, introduziu um sistema de irrigação que economiza até 60% de água, mas outros agricultores não adotaram técnicas sustentáveis devido a custos.
Críticas ao tratado de 1944
O tratado é visto como inadequado para as condições atuais, levando ao desejo de revisão. Brian Jones defende que o acordo deve ser mantido: “É frustrante não ter água suficiente para irrigar minhas plantações.”
Com a seca exacerbando a crise, a situação da vida aquática local e da indústria do turismo está em risco, e moradores continuam a esperar por chuva. "Rezar por chuva é tudo o que nos resta", lamenta Betance.