Alta de evangélicos no País reduziu participação eleitoral e não aumentou polarização, diz estudo
Estudo inédito revela que o crescimento do eleitorado evangélico no Brasil, entre 1994 e 2018, correlaciona-se com a redução da participação nas eleições, contradizendo tendências observadas em outros países. Além disso, os resultados indicam um deslocamento à direita, mas sem alterar a polarização no cenário político nacional.
Pesquisa inédita sobre o "boom evangélico" no Brasil revela que o crescimento desse grupo religioso entre 1994 e 2018 está ligado à redução do comparecimento às urnas nas eleições.
O estudo do PhD Victor Araújo é o primeiro a isolar o efeito causal do aumento das igrejas evangélicas na política eleitoral. Ele utilizou dados municipais, eleitorais e métodos estatísticos avançados.
Resultados indicam que em cidades com mais igrejas, o comparecimento dos eleitores diminui em média 1,8 pontos porcentuais nas eleições. Isso contraria a hipótese de maior engajamento eleitoral do grupo.
A demografia do eleitor evangélico brasileiro, composta em sua maioria por fiéis de baixa renda (65% ganhando até três salários mínimos), leva a uma pressão entre candidatos que prometem melhorar a qualidade de vida e aqueles com discursos morais alinhados à igreja.
O estudo foi publicado na revista Political Science Research and Methods da Universidade de Cambridge.
Outro achado importante é o crescimento do conservadorismo em municípios com mais evangélicos, especialmente a partir de 2012, indicando um deslocamento 17% para a direita na escala ideológica.
Apesar do aumento evangélico, que representa um quarto da população brasileira segundo o Censo 2022, não houve mudanças significativas na competição partidária ou polarização ideológica.
A pesquisa sugere cautela ao atribuir a ascensão dos evangélicos à polarização política no Brasil. O eleitorado evangélico pode ser crucial nas próximas eleições.
Dados mostram que, em cidades com alta concentração evangélica, o ex-presidente Jair Bolsonaro teve mais votos que Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno recente.
O governo atual tem dado acenos ao público cristão, sancionando leis simbólicas. Na direita, líderes aprovados, como Tarcísio de Freitas, também buscam apoio desse segmento.
Araújo conclui que a esquerda enfrenta uma perda dupla, pois muitos evangélicos se tornaram mais conservadores e optam por não votar em candidatos de centro-esquerda.