Análise | Como o crime digital fez a máfia trocar o porto de Santos como o maior fornecedor de coca à Europa
Procurador italiano alerta sobre a evolução das máfias e a fragilidade do combate ao narcotráfico no Brasil. Gratteri critica a falta de preparo das autoridades diante da digitalização do crime organizado e a insuficiência das forças de segurança.
Nicola Gratteri, chefe da Procuradoria Antimáfia de Nápoles, compartilhou suas preocupações sobre criminalidade organizada durante um evento no Rio de Janeiro.
Desde 1989, ele estuda a realidade da máfia 'Ndrangheta, que comprava grandes quantidades de cocaína na América do Sul, especialmente na Venezuela e Colômbia.
Atualmente, ele observa que o Equador se tornou uma nova base para o tráfico de drogas, enquanto o porto de Santos perdeu importância.
Gratteri criticou a Polícia Federal (PF) brasileira por ser insuficiente para combater a vasta criminalidade no país. Ele considera utópico pensar que o Brasil conseguirá controlar sua fronteira norte.
O procurador também criticou os políticos italianos, destacando Carlos Nordio, Ministro da Justiça, por suas opiniões sobre a inutilidade de interceptações telefônicas.
Gratteri apresentou o caso do supertraficante Raffaele Imperiale, que demonstrou a evolução do crime em um mundo digitalizado, onde máfias utilizam a dark web para coordenar atividades criminosas.
Ele ressaltou como as máfias agora têm tecnologia superior à dos investigadores, dificultando o combate ao narcotráfico.
Gratteri denunciou a fragilidade do Estado, citando uma investigação na qual um hacker teve acesso ao Ministério da Justiça, revelando problemas graves na segurança das informações.
Além disso, ele abordou a ineficácia do sistema processual italiano, que muitas vezes prioriza a transparência em detrimento da eficácia nas investigações.
Concluindo, Gratteri afirmou que reformas necessárias para combater o crime digital ainda são insuficientes e pediu um aumento nos investimentos em tecnologia.
Ele criticou as objeções de Nordio sobre os custos das interceptações, afirmando que o silêncio sobre esses problemas é uma forma de cumplicidade.