As marcantes experiências da médica que prepara o último adeus de bebês
A médica Lilia Embiruçu dedica sua carreira a proporcionar dignidade e conforto a mães que enfrentam a perda de bebês, criando minúsculas roupas e caixões para garantir um ritual de despedida significativo. Sua abordagem humanizada é um diferencial no setor de neonatologia, promovendo cuidados paliativos e acolhimento durante momentos de dor.
Alerta: Essa reportagem contém depoimentos que podem sensibilizar ou entristecer.
A médica neonatologista Lilia Maria Caldas Embiruçu exibe roupinhas coloridas de tricô para bebês prematuros que não sobreviveram, mostrando sua importância para um enterro digno. Estas roupas são feitas para bebês minúsculos, cujos casos complexos chegam ao Hospital Geral Roberto Santos, em Salvador.
Aos 65 anos, Lilia reflete sobre sua carreira iniciada na década de 1980, durante a epidemia de Aids, onde começou a se envolver com cuidados paliativos. Apesar de um suporte oficial ter surgido apenas em 2022, ela já buscava proporcionar acolhimento e comunicação humanizada.
Recentemente, uma nova lei foi sancionada, criando a Política Nacional de Humanização do Luto Materno e Parental, que assegura apoio a mães que enfrentam a perda de bebês. As medidas incluem
- alas separadas em maternidades
- direito a acompanhante durante o parto
- capacitação de profissionais de saúde
Lilia acredita que o luto materno deve ser abordado de forma mais humanizada. Ela relata pedidos emocionantes de mães, como levar um bebê à praia. A resposta criativa da médica incluiu uma caixa de vidro com água do mar para conforto.
Além das roupas, Lilia faz pequenos caixões e caixas de memórias com recordações, como fotos e som do batimento cardíaco do bebê. Ela incentiva as famílias a criarem memórias, mesmo em momentos difíceis.
Um caso marcante envolveu uma mãe que não quis fotografar seu bebê, mas meses depois, retornou em busca de memoráveis. Lilia pediu ajuda a um papiloscopista para criar um retrato falado do filho, proporcionando a imagem desejada.
Assim, Lilia transforma a dor da morte em celebrações de vida, enfatizando a importância do ritual de despedida, independentemente da duração da vida do bebê. Ela pondera: "olhamos muito para o biológico e pouco para o biográfico da família".