“Bem-aventurados os que não viram e creram”
A ascensão da inteligência artificial desafia a crença em imagens como prova irrefutável, levando à necessidade de um exame crítico da realidade. Neste novo cenário, o pensamento e a análise se tornam fundamentais para discernir o que é verdadeiro do que é fabricado.
O Evangelho de João narra a ressurreição de Jesus, recebida em festa pelos discípulos, exceto por Tomé, que duvida do ocorrido. Para crer, ele exige provas físicas, como tocar as feridas do Messias.
Jesus se apresenta a Tomé, que se convence ao tocar as chagas, e o Mestre o repreende: “Bem-aventurados os que não viram e creram.” Essa figura se tornou sinônimo de ceticismo, levando à frase “tem que ver para crer”.
Com o avanço da tecnologia, imagens e vídeos tornaram-se evidências incontestáveis da realidade. Por exemplo, a foto de Buzz Aldrin na Lua, em 1969, solidificou essa crença. A frase “uma imagem vale mais que mil palavras” refletia essa ideia.
Contudo, a inteligência artificial criou um novo paradigma. Agora, é possível gerar imagens realistas, tornando a realidade relativa. Exemplo: cenas fictícias de Putin e Zelensky se abraçando, apesar da guerra.
Hoje, não se pode confiar em tudo que se vê. A prudência exige questionamento. As imagens devem ser analisadas criticamente, e o conhecimento deve prevalecer sobre a visão.
Na nova educação, um contexto é essencial para validar imagens. As palavras devem pesar mais que as imagens. Uma mudança de percepção é necessária: duvidar do que vemos.
Os "novos-Tomés", para acreditarem, demandarão uma experiência direta com a fonte da informação, evitando intermediários. A manifestação direta será o novo critério de veracidade.
Aqueles que não se adaptarem correm o risco de se tornarem presas fáceis à desinformação. As palavras de Jesus ressoam com força: “Bem-aventurados os que não viram e creram.” Hoje, a verdade é descoberta via pensamento crítico, não pela visão.
Por: José Roberto de Castro Neves, sócio do Ferro, Castro Neves, Daltro & Gomide Advogados e membro da Academia Brasileira de Letras.