Caça de javalis por diversão piora ameaças ao agronegócio e arma pessoas que não caçam
Auditoria revela que a maioria dos caçadores licenciados não está efetivamente controlando a população de javalis, mas utilizando as permissões para acumular armamentos pesados. Enquanto isso, o problema da espécie invasora se agrava com práticas inadequadas e o surgimento de um mercado recreativo de caça.
Caça de javalis: Problemas e Controvérsias
O governo de Jair Bolsonaro autorizou civis a caçar javalis, supostamente para proteger lavouras e rebanhos. No entanto, a prática tem gerado novas complicações, como o uso indevido de armas e a elevatação do mercado de caça recreativa.
A análise do Estadão revelou que muitos caçadores não têm interesse real na erradicação dos javalis, mas utilizam as regras para obter armas pesadas e ostentar suas conquistas, preferindo caçar grandes machos. Isso contraria as melhores práticas de controle, que recomendam o abatimento de fêmeas e filhotes.
Desde 2018, o número de CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores) cresceu sete vezes, mas apenas 10% solicitaram autorização ao Ibama para caçar. Na prática, isso ampliou arsenais privados, com caçadores possuindo até 30 armas e 165 mil munições anualmente.
Os javalis, introduzidos no Brasil nos anos 1960, têm se multiplicado de forma alarmante. Em 2019, estavam presentes em 826 municípios e, em 2022, em 2.010. Esse crescimento é exacerbado por práticas ilegais de compra e soltura de javalis.
As irregularidades têm gerado processos judiciais em vários estados, com caçadores envolvidos em crimes e ações ilegais, como abate de espécies ameaçadas. A exploração da caça como um negócio de aventura também tem sido um problema crescente.
Os especialistas apontam que a caça recreativa, ao focar em machos grandes, dificulta a real erradicação dos javalis, podendo até aumentar sua população. A pesquisadora Clarissa Rosa e o professor Alexander Biondo ressaltam a urgência de um controle profissional e efetivo contra os invasores.
O Ibama está revisando as regras sobre o manejo dos javalis, visando um controle mais eficaz. A Frente Parlamentar da Agropecuária defende que qualquer política de controle deve basear-se em dados científicos. A discussão continua sobre o papel dos caçadores e a eficácia de suas práticas na gestão da fauna no Brasil.