Como Kosovo usa 'diplomacia do judô' para conquistar reconhecimento negado por Brasil e outros países
Kosovo viveu uma trajetória de superação esportiva após a guerra, transformando seu judô em um símbolo de resistência e identidade nacional. Com a conquista de medalhas olímpicas por judocas treinadas por Toni Kuka, a nação busca reconhecimento internacional e afirmação no cenário global.
Toni, um promissor judoca da Iugoslávia, teve sua carreira interrompida aos 19 anos devido à fragmentação do país, que se separava em Croácia, Eslovênia, Bósnia e Macedônia. Kosovo, de população albanesa, enfrentava repressão e demissões em massa, afetando a equipe de judô, que deixou de competir.
Durante o conflito entre guerrilheiros de Kosovo e Sérvia, Toni se tornou um combatente. Após 78 dias de bombardeios pela Otan, Kosovo foi tutelado pela ONU. Para apoiar a comunidade, Toni e seu irmão criaram um dojô para ensinar judô às crianças locais.
Em 2021, Kosovo, um dos lugares mais pobres da Europa, declarou independência, mas não é reconhecido por países como Brasil, China e Rússia. A importância de Kosovo no judô ganhou força com a atleta Majlinda Kelmendi, treinada por Toni desde criança, que levou o país a se destacar internacionalmente.
Majlinda, sob pressão após uma decepção olímpica em 2012, conquistou o Campeonato Mundial e o ouro na Olimpíada do Rio em 2016, marcando um ponto de virada para Kosovo no cenário esportivo e político. O reconhecimento de Kosovo pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em 2014 foi um passo importante e possibilitou a participação nas Olimpíadas.
Hoje, Kosovo possui cinco medalhas olímpicas, todas conquistadas por mulheres do judô. Toni, que se tornou referência de treino, e sua esposa Majlinda ajudam a formar novas gerações de atletas na cidade de Peja.
A história de Kosovo e seu sucesso no judô se entrelaçam com temas de superação, diplomacia e identidade, comprovando que a luta dos kosovares no tatame é também uma luta por reconhecimento no mundo.