Currículos e cartas feitos por inteligência artificial desmoralizam travessão no RH
Recrutadores começam a detectar sinais de textos escritos por inteligência artificial em currículos e cartas de apresentação. A discussão sobre a autenticidade da escrita e o uso excessivo de ferramentas de IA ganha destaque no mercado de trabalho.
Profissionais de recrutamento estão alertas para indícios de que textos foram gerados por ferramentas de inteligência artificial (IA), como o ChatGPT, Gemini ou DeepSeek.
Um sinal notável é o uso excessivo do travessão, um elemento pontual pouco comum nas redes sociais e que pode indicar um texto não autoral.
Especialistas discutem essa questão no LinkedIn, apontando que muitos currículos e cartas de apresentação estão se tornando genéricos e polidos, levando recrutadores a duvidar da autenticidade dos candidatos.
Bruno Barreto, da consultoria Robert Half, afirma que textos gerados por IA são excessivamente estruturados e carecem de personalização. Ele observa que adaptar currículos com IA resulta em textos repetitivos e artificiais.
Na plataforma Catho, a IA é utilizada para triagem inicial, focando em formações e experiências, enquanto Patricia Suzuki, da Redarbor Brasil, enfatiza a importância da autenticidade no conteúdo.
As entrevistas se tornaram a “hora da verdade”, onde se verifica a competência real do candidato. Barreto destaca que mentiras são facilmente identificadas nesse contexto.
O uso frequente do travessão em textos de IA se deve ao treinamento dos modelos com textos formais, segundo Adriano Carezzato, da Fundação Vanzolini. Esses modelos seguem padrões probabilísticos sem considerar o contexto adequado.
O diretor-executivo do ITS Rio, Fabro Steibel, complementa que a IA não possui conhecimento sobre gramática ou sintaxe, apenas repete padrões.
Dalva Corrêa, professora de português, alerta para a dificuldade de expressão escrita entre os profissionais, e criou um curso de “escrita autêntica” para ajudar. Ela afirma que a preocupação deve ser mais profunda, pois apenas 10% da população é plenamente proficiente em habilidades básicas de leitura e escrita.
Dalva defende o uso do travessão, quando apropriado, e critica a autocensura causada pelo receio de ser confundido com uma IA. Ela questiona: “Se você sempre usou travessão, por que vai parar agora?”