Demanda do envelhecimento: no serviço doméstico, lares começam a trocar empregadas por cuidadoras
Aumenta a demanda por cuidadores pessoais no Brasil, especialmente para atendimento de idosos, diante do envelhecimento populacional e da falta de familiares disponíveis. Ao mesmo tempo, a precarização do trabalho persiste, com maioria das cuidadoras sendo mulheres negras sem direitos garantidos.
Transformações no Trabalho Doméstico no Brasil
O trabalho doméstico remunerado no Brasil está passando por mudanças significativas. A proporção de serviços gerais nas residências está em declínio, enquanto a quantidade de cuidadores pessoais quase dobrou na última década, refletindo o envelhecimento da população.
Este aumento é impulsionado pela necessidade de cuidados para idosos e pessoas com deficiência, pois há menos familiares disponíveis para oferecer essa assistência. A maioria dos empregados domésticos continua a ser mulheres negras em condições precarizadas.
Por exemplo, Lucicléia de Oliveira, de 42 anos, trabalhou como diarista antes de se especializar no cuidado de idosos, ao perceber a demanda crescente enquanto prestava serviços de limpeza.
Segundo um estudo do Dieese com base na Pnad Contínua do IBGE, dos 5,9 milhões de trabalhadores em serviços domésticos, 21% eram cuidadores em 2024, um aumento em relação a 13,9% em 2014. A participação de cuidadores pessoais aumentou de 5,8% para 11,1% nesse período.
A crise do cuidado é notável: com a previsão de que até 2070, mais de 40% da população terá mais de 65 anos, a necessidade de assistência só aumentará. As políticas públicas existentes ainda não atendem adequadamente a essa demanda, segundo especialistas.
Novos Arranjos Familiares
Cláudia Peixoto, por exemplo, precisou contratar três cuidadores para sua mãe após um AVC, já que não consegue dedicar o tempo necessário devido a suas responsabilidades profissionais.
Fatores como o aumento do individualismo e a desigualdade de gênero também contribuem para o crescimento desse mercado de trabalho. Muitas cuidadoras enfrentam jornadas longas e informalidade, com 79% sem carteira assinada, recebendo em média um salário mínimo.
Por exemplo, Lucicléia trabalha como cuidadora e diarista, variando suas escalas de trabalho, enquanto a maioria das cuidadoras ainda precisa lidar com a precarização e a desvalorização de seu trabalho.
A Necessidade de Políticas Públicas
A situação é ainda mais crítica para as profissionais que precisam cuidar de seus próprios familiares. O trabalho de cuidadores é frequentemente visto como uma extensão de suas responsabilidades caseiras, sem o devido reconhecimento como trabalho formal.
A crescente aceitação da necessidade de cuidadores na sociedade é um sinal de que mudanças são necessárias, mas sem um suporte adequado, essas profissionais continuam a enfrentar desafios significativos.