Desfigurados e esquecidos: BBC visita os sobreviventes coreanos da bomba de Hiroshima
Sobreviventes coreanos da bomba de Hiroshima enfrentam estigmas e doenças geradas pela radiação, enquanto clamam por reconhecimento e justiça. A luta por um pedido de desculpas não se limita ao passado, mas se estende às gerações futuras afetadas pelas consequências da tragédia.
Sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima, 80 anos após o ataque
No dia 6 de agosto de 1945, uma bomba nuclear foi lançada sobre Hiroshima, matando instantaneamente cerca de 70 mil pessoas. Entre os sobreviventes está Lee Jung-soon, que, aos 88 anos, ainda recorda o choque e a devastação que presenciou. Ela aponta que a explosão causou desfiguração extrema nas vítimas, deixando apenas os olhos visíveis.
Embora o bombardeio tenha afetado 420 mil habitantes, é importante lembrar que cerca de 20% das vítimas imediatas eram coreanas. A Coreia estava sob domínio japonês na época, e muitos coreanos em Hiroshima eram trabalhadores forçados ou migrantes.
Sobreviventes coreanos, como Shim Jin-tae, de 83 anos, relatam a luta contínua pela justiça e responsabilidade. "Ninguém assume a responsabilidade", diz Shim, ressaltando a falta de desculpas dos EUA e do Japão.
As consequências da radiação e da discriminação estrutural resultaram em altos índices de doenças entre os sobreviventes coreanos. A mortalidade entre os coreanos foi de 57,1%, comparada a 33,7%% da população geral.
Após o bombardeio, cerca de 23 mil coreanos retornaram à Coreia, enfrentando estigmas e preconceitos. O silêncio sobre sua situação foi prevalente, e doenças sem explicação abateram muitos deles. Num contexto de negligência, o governo coreano só se manifestou oficialmente sobre as vítimas em 2019.
Recentemente, autoridades de Hiroshima visitaram Hapcheon, mas não houve pedido de desculpas oficial. Ativistas, como Junko Ichiba, enfatizam que "paz sem um pedido de desculpas não tem sentido", referindo-se à necessidade de reconhecimento histórico das vítimas coreanas.
Sobreviventes, como Shim, destacam que a memória do que viveram deve ser preservada. "Se esquecermos, isso vai acontecer novamente", alerta.