Dólar ainda é rei, mas fiscal dos EUA e tarifas ameaçam reinado da moeda de reserva
A desdolarização da economia global ganha força, mas a confiança em alternativas à moeda americana ainda é incerta. Especialistas destacam que, apesar das ameaças, o dólar permanece como a principal divisa nas transações internacionais.
O dólar, símbolo da hegemonia econômica americana, enfrenta desafios em sua posição como moeda de referência global.
A antiga máxima de Wall Street, "Cash is King", evoluiu para "o dólar é rei", embora essa primazia esteja ameaçada por uma crescente desdolarização da economia global.
Recentemente, especialistas questionaram se o dólar ainda mantém seu status. Reconheceram o esforço global para alternativas, como a proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um sistema de pagamentos dos Brics. Contudo, nenhuma opção consolidou a confiança dos investidores.
Kit Juckes, do Société Générale, compara a situação do dólar à seleção brasileira de futebol, que mesmo sem vitórias recentes ainda é respeitada. "O dólar é o futebol do Brasil no mercado de câmbio", afirma.
Os últimos anos mostraram a erosão dos pilares que sustentam o dólar. A trajetória fiscal dos EUA é considerada insustentável e a inflação está menos controlada.
Decisões políticas, como as sanções a Rússia e China durante o governo Joe Biden, incentivaram outros países a contornar a divisa americana. Thierry Wizman, do Macquarie Group, alerta para os efeitos da ofensiva tarifária de Donald Trump na globalização.
Investidores também exigem prêmio alto para financiar a dívida americana, com agências de classificação negando um rating "Triplo A" devido a déficits fiscais elevados.
Embora a ex-presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, veja essa situação como um obstáculo a ser superado, questiona-se: "Qual é a alternativa para o dólar?"
A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, menciona a necessidade de um "momento global do euro", mas a criptomoeda enfrenta desafios. O yuan chinês também cresce, mas seu uso está limitado pelo regime político da China.
O mercado, ao final, decide a moeda de reserva global. James Bullard, ex-presidente do Fed de St. Louis, destaca que a escolha não é governamental, mas de milhões de participantes. Atualmente, a resposta continua sendo o dólar americano.
Na Casa Branca, a importância da moeda de reserva é debatida. Juckes observa que ela possibilita crédito mais barato, mas também torna a política monetária dos EUA mais complexa.
Apesar da queda do dólar no primeiro semestre, especialistas continuam a afirmar que, em termos de comércio, o dólar permanece soberano e é fundamental no sistema monetário internacional.