É possível o mundo sem prisões? Para essa estudiosa, sim - e as conquistas disso estão pelo caminho
Ruth Wilson Gilmore propõe uma visão inovadora sobre o abolicionismo penal, enfatizando a necessidade de reduzir desigualdades sociais e transformar o sistema carcerário. A geógrafa americana defende que a verdadeira solução para o crime reside em construir comunidades resilientes, em vez de perpetuar a punição.
Ruth Wilson Gilmore, geógrafa americana, dedica mais de três décadas à pesquisa e ao ativismo por um mundo sem prisões.
Para ela, o abolicionismo penal é um horizonte viável, que deve começar com a redução das desigualdades sociais e a criação de comunidades menos violentas.
Gilmore investiga as prisões nos Estados Unidos, o país com a maior população carcerária do mundo, e contesta a ideia de que prisões são respostas naturais ao crime. Ela vincula o aumento do encarceramento ao abandono das políticas de bem-estar social nos anos 1970.
Segundo Gilmore, o crime resulta do descaso social: sem moradia, saúde e educação adequadas, cria-se um terreno fértil para a violência. Sua pesquisa indica que prisões estão localizadas em áreas empobrecidas e que a maioria da população encarcerada é negra e pobre.
Como ativista na Califórnia, Gilmore ajudou a fechar prisões e reduzir penas. Em 2023, a população carcerária do estado caiu de 160 mil para 94 mil. Ela afirma que o abolicionismo não é o fim das prisões, mas um conjunto de ações que redefine a relação do Estado com as comunidades.
Em entrevista ao Estadão, ela discute a mudança na economia política dos EUA sob Richard Nixon, que deslegitimou o Estado de bem-estar social e redirecionou fundos para o sistema prisional. Essa mudança, ela sugere, pavimentou o caminho para o endurecimento do sistema carcerário.
Gilmore destaca que, embora tenha havido uma redução do número total de encarcerados nos EUA, as estruturas alternativas, como centros de detenção para imigrantes, multiplicaram-se. Ela afirma que o problema do encarceramento é complexo e envolve muitos fatores interconectados, como a educação e a saúde.
A abolição, para Gilmore, significa mudar tudo: criar novas relações sociais não-violentas e investir em comunidades ao invés de prisões. Ela finaliza ressaltando que a mudança deve ser abrangente, envolvendo todos os aspectos que afetam a vida das pessoas.