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“Extrema direita” cresce ao “convergir com a realidade”, diz professor

Professor Rodrigo Nunes analisa as razões do apoio popular à extrema direita e a relação entre desejo e política. Historiadora Ynaê Lopes dos Santos defende a centralidade da questão racial na compreensão da realidade brasileira e do papel da esquerda.

Seminário na FFLCH da USP - 14.05.2025

O professor de filosofia da PUC Rio, Rodrigo Nunes, analisou a atração das classes populares por projetos autoritários. Durante a mesa “As camadas pobres e as opções autoritárias”, ele destacou que a mensagem da extrema direita reflete a ideia de uma “guerra de todos contra todos”.

Nunes argumentou que o apoio à extrema direita não decorre apenas de manipulação, mas de investimentos de desejo. Citando Deleuze e Guattari, ele afirmou que as massas podem desejar o fascismo, e esse desejo precede o cálculo racional. “Nós não desejamos as coisas porque são boas, mas acreditamos que são boas porque as desejamos”, completou.

O professor propôs uma nova abordagem: “A verdadeira questão não é a burrice de aderir à extrema direita, mas o que no mundo faz isso fazer sentido”. Ele atribuiu esse fenômeno a três fatores históricos: legado da escravidão, políticas neoliberais e crise econômica pós-2008.

Segundo Nunes, a extrema direita atua em duas frentes: se alinha à competição individualista e os espaços de acolhimento, como igrejas, promovem solidariedade. Ele concluiu que, quando as compensações psicológicas não forem suficientes, poderá haver uma reabertura política.

A historiadora Ynaê Lopes dos Santos, professora da UFF, criticou a esquerda brasileira por tratar o racismo como tema secundário. Ela afirmou que a questão racial é central para entender a realidade brasileira e a manutenção da esquerda.

Lopes enfatizou: “A esquerda ainda vê o racismo como um apêndice, enquanto é fundamental”. Ela destacou que a esquerda contribuiu para estruturas de exclusão e fez uma metáfora sobre a falta de avanços desde o pós-abolição: “Estamos em um eterno 14 de maio”, referindo-se à ausência de reparações e justiça social após o fim da escravidão.

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