Fator político incluído por Trump no tarifaço dificulta negociações, diz FGV/Ibre
O documento da FGV/Ibre destaca as dificuldades enfrentadas pelo Brasil nas negociações comerciais com os Estados Unidos, agravadas por motivações políticas apontadas por Trump. Especialistas alertam que as tarifas propostas podem inviabilizar importantes exportações brasileiras, especialmente em setores chave.
A carta do presidente dos EUA, Donald Trump, ao Brasil, detalha tarifas que podem ser aplicadas ao país e foi a única direcionada a parceiros comerciais com motivações políticas explícitas, limitando as negociações.
O Indicador de Comércio Exterior (Icomex) da FGV/Ibre, divulgado em 14 de julho, ressalta que isso se dá por questões que pertencem à competência do Estado brasileiro. Trump cita déficits não existentes como justificativa.
A balança comercial Brasil-EUA foi deficitária desde 2009, com um saldo de US$ 1,7 bilhão favorável aos EUA no primeiro semestre de 2025.
As exportações brasileiras para os EUA superaram o crescimento total em períodos de 2012-2016, 2020-2024 e na comparação de 2024-2025. Porém, a participação dos EUA no comércio brasileiro diminuiu: de 24,4% para 12% nas exportações e de 22,7% para 15,5% nas importações entre 2001 e 2024.
Esse declínio está mais relacionado ao avanço da China do que a políticas brasileiras. Participações nos bens de capital e semiduráveis caíram, mas as importações de bens intermediários se mantiveram.
No debate sobre as tarifas de Trump, o relatório menciona que 10 produtos representam 57% das exportações para os EUA, enquanto apenas 3 produtos (petróleo, soja e minério de ferro) correspondem a 96% das exportações para a China.
Setores como agropecuário e siderúrgico temem que a tarifa de 50% inviabilize exportações. Contudo, espera-se que Trump possa “voltar atrás” nas propostas.
De acordo com Paul Krugman, as exportações dos EUA representam cerca de 2% do PIB brasileiro e as empresas multinacionais poderão influenciar na pressão sobre o governo Trump.
A balança comercial brasileira registrou um superávit de US$ 30,1 bilhões entre janeiro e junho, menor que os US$ 41,6 bilhões do ano anterior, devido ao crescimento das importações.
Pelo lado das exportações, a queda nos preços das commodities, aumento das compras de petróleo da Rússia e recuperação do setor de construção impactaram negativamente.
O relatório destaca a valorização do câmbio e a antecipação de importações como fatores nos aumentos das compras externas.