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Gay e católico praticante: como fiéis LGBT conciliam a fé com a orientação sexual

Pamella Silva, que viveu 27 anos escondida devido à sua homossexualidade e à religião, compartilha sua jornada de autoaceitação e a busca por acolhimento na Igreja Católica. A mudança na postura da instituição, liderada pelo papa Francisco, traz esperança para muitos católicos LGBTQIA+ em um caminho de inclusão e compreensão.

Pamella Barbosa Silva, de 37 anos, passou 27 anos escondida em sua sexualidade após se converter ao catolicismo. Aos 10 anos, encantou-se ao se esconder em uma igreja em Ceres, Goiás, mas sua fé sufocou sua homossexualidade.

Durante a adolescência, Pamella envolveu-se com a Renovação Carismática Católica (RCC), uma vertente conservadora que promovia uma visão negativa sobre a homossexualidade. "A homossexualidade era tratada como um crime", disse ela. Sua experiência na Igreja ficou marcada por pregações sobre o “pecado da homossexualidade”, causando conflitos internos e transtornos emocionais.

Aos 37 anos, Pamella assumiu seu relacionamento com Érika Oliveira Guerreiro Reis e está noiva. Ela critica a Igreja Católica por não aceitá-la completamente, apesar de reconhecer alguns avanços, como as bênçãos pastorais a casais homoafetivos aprovadas pelo Papa Francisco.

O Catecismo da Igreja encara a homossexualidade como uma "desordem", enquanto enfatiza o acolhimento das pessoas homossexuais. "O que se pede é que vivam a castidade", explica o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, que defende que tanto heterossexuais quanto homossexuais devem seguir as mesmas regras.

Movimentos católicos, como a Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT, buscam promover um ambiente seguro para a vivência da fé entre LGBTQIA+. O movimento já conta com 25 grupos no Brasil e oferece suporte à comunidade.

Enquanto alguns católicos LGBT se sentem mais acolhidos, outros ainda enfrentam preconceitos. ACamila Santos Valentim se identifica como bissexual, e, apesar de estar casada com um homem, vive conflitos em relação à sua verdadeira identidade.

Andrea Rossati Farias Chaves, uma mulher transexual homossexual, optou pela vida celibatária para se alinhar à doutrina católica, mas enfrenta dificuldades para se sentir completamente aceita.

A Renovação Carismática continua mantendo uma postura conservadora, tratando atos homossexuais como desordenados. Apesar disso, é possível observar um movimento em direção ao acolhimento e ao respeito, ainda que a aceitação total do casamento e sacramentos para LGBTs continua distante.

Pamella sonha um dia em que possa ser uma pessoa LGBT católica sem medo. "Eu amo ser católica e não quero deixar minha fé para ser quem sou", afirma.

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