HOME FEEDBACK

Interesse americano por Itaipu revela como a extração energética integra nova face da colonização tecnológica

Itaipu, símbolo de cooperação entre Brasil e Paraguai, enfrenta risco de exploração externa após o fim das restrições de venda de energia. O interesse americano em reconfigurar sua produção energética pode transformar a usina em um ativo estratégico sob controle corporativo, em detrimento da soberania regional.

Usina Hidrelétrica de Itaipu, inaugurada em 1984 entre Brasil e Paraguai, é um marco de energia limpa e cooperação Sul-Sul.

A produção da usina já abasteceu ambos os países, com o Paraguai vendendo excedentes ao Brasil. Com o fim do tratado em 2023, surgiu uma oportunidade para atores externos explorarem essa energia.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, declarou interesse em utilizar o Paraguai para instalar data centers, aproveitando a abundância energética do país para infraestrutura de Inteligência Artificial.

Data centers exigem grande quantidade de energia e água para operar. Empresas como Google e Microsoft enfrentam desafios operacionais devido à escassez energética. Muitos locais nos EUA já sofrem com escassez hídrica por conta do consumo excessivo de água para o resfriamento desses centros.

O excedente da Itaipu pode ser explorado para sustentar infraestruturas digitais controladas por corporações estrangeiras, em vez de beneficiar a população local. O Brasil, por sua vez, investiu bilhões em tecnologia ao invés de desenvolver sua própria infraestrutura.

A busca por data centers não considera os interesses da América Latina e mina a soberania digital. O governo americano propõe uma nova exploração de recursos na região, favorecendo o Norte Global. A dependência se intensifica com a instalação dessas infraestruturas.

O Plano Redata busca reindustrializar o Brasil via digitalização, mas corre o risco de subordinar a infraestrutura pública a interesses externos. Data centers podem extrair recursos sem contrapartidas em termos de desenvolvimento local.

A governança da internet no Brasil enfrenta ameaças, como a proposta de transferir a supervisão do CGI.br para a Anatel, fortalecendo interesses corporativos.

A reconfiguração de Itaipu como ativo estratégico pode ressignificá-la, passando de símbolo de cooperação a ferramenta de controle. Defender Itaipu é defender o direito do Sul Global à sua própria soberania tecnológica e política.

A resistência a essas mudanças exige um compromisso com a cooperação regional, buscando evitar a transformação do Sul Global em uma colônia digital, limitada a fornecer insumos para potências externas.

As autoras, Isabela Rocha e Camila Modanez, ressaltam a urgência de se lutar por uma soberania tecnológica real, onde a Inteligência seja genuinamente nossa.

Leia mais em o-globo