Juro alto não faz chover
O silêncio dos industriais sobre os juros altos é semelhante à apatia que contribuiu para a desindustrialização no Brasil. Críticas pontuais surgem, mas o consenso em favor de taxas elevadas permanece inabalável.
Seis anos atrás, o artigo "Que falta nos faz o doutor Antônio" foi escrito durante o início do governo Jair Bolsonaro, quando a taxa de juros subiu para 6,5% ao ano, sem contestação significativa. Durante um encontro fechado com empresários, a falta de crédito e a alta dos juros não foram criticadas.
O autor recorda de Antônio Ermírio de Moraes, falecido em 2014, que certamente se oporia à manutenção da taxa de juros naquele nível, especialmente em tempos de recessão. Hoje, com a taxa em 14,25% ao ano, o silêncio é ensurdecedor, incluindo entre críticos como o presidente Lula e o ministro Fernando Haddad.
Embora os juros altos sejam prejudiciais para a indústria, esta cresceu quase 4% no ano passado. No evento “Rumos 2025”, o ministro Geraldo Alckmin sugeriu que o Banco Central brasileiro estude ignorar o aumento dos preços de alimentos na fixação das taxas, como faz o Fed dos EUA. Ele destacou que "não adianta elevar os juros porque isso não vai fazer chover".
A fala de Alckmin, menos contundente que a de seu antecessor, José Alencar, sinaliza a quebra de um silêncio. Haddad, ao apoiar o presidente do BC, reconheceu a necessidade de avaliar com mais cuidado a visão do mercado em relação à inflação, usando o exemplo da "Tese do Século".
Além disso, uma pesquisa do PhD Haroldo da Silva revelou que a Confederação Nacional da Indústria não conseguiu evitar a desindustrialização devido à aceitação da agenda neoliberal, que prejudicou a indústria ao beneficiar o setor financeiro. O silêncio atual sobre os juros altos se assemelha a essa situação, com a narrativa favorável à taxa superior a 14% se tornando dominante.