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Lugar de fala: remédio e veneno

A valorização do "lugar de fala" é essencial para a inclusão de vozes marginalizadas, mas seu uso excessivo pode levar à intolerância e ao silenciamento de opiniões relevantes. É preciso encontrar um equilíbrio que permita o respeito à diversidade sem desprezar a contribuição de diferentes perspectivas.

O “lugar de fala” pode ser positivo, mas o seu exagero é perigoso.

Até a idade adulta, Napoleão Bonaparte não se considerava francês, pois nasceu na Córsega, então parte da cidade-estado de Gênova. Sua ascensão à liderança da França resultou em sua imagem associada ao país.

O quadrinho Asterix, criado em 1959, retrata uma aldeia gaulesa resistindo ao Império Romano. Seus autores, René Goscinny e Albert Uderzo, imigrantes, capturaram a essência da cultura francesa.

O Brasil também apresenta exemplos semelhantes, como Castro Alves, Machado de Assis, Clarice Lispector e Carybé, que representaram realidades alheias às suas origens.

A proposta do “lugar de fala” é valorizar a voz de grupos marginalizados, mas o seu uso excessivo pode deslegitimar opiniões alheias, criando preconceitos e inibindo o debate.

Ironias da história demonstram que opiniões importam mais que as origens de quem as emite.

Uma sociedade saudável acolhe vozes diversificadas. O silenciamiento com base no “lugar de fala” limita a riqueza cultural e a luta por avanços sociais.

Assim, respeitar as ideias e experiências de todos, independentemente da sua posição de grupo, é essencial para o progresso e uma convivência harmoniosa.

José Roberto de Castro Neves é advogado e sócio do Ferro, Castro Neves, Daltro & Gomide Advocados.

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