No choque de culturas, casais binacionais buscam a convivência na China
Brasileiros na China compartilham experiências de adaptação cultural em casamentos mistos. Entre os desafios, a fusão de tradições alimentares e formas de demonstrar amor e afeto.
Jun Taichi, 48 anos, nasceu no Rio de Janeiro em uma família japonesa ligada à gastronomia. Seu pai abriu a primeira churrascaria brasileira no Japão, em 1990. Ele reside em Xangai há 26 anos.
Em 1998, Taichi abriu a primeira churrascaria brasileira da cidade, a Latina Brazilian Steakhouse. Ele se mudou para a China para introduzir o conceito de churrascaria em um mercado desconhecido.
A cultura de refeições compartilhadas na China combinava bem com o estilo do rodízio. Taichi criou uma rede de 25 restaurantes e emprega 800 colaboradores nas cidades de Xangai, Pequim e Shenzhen. Ele também construiu sua família no país.
Casado com uma chinesa e pai de dois filhos, Taichi afirma que Xangai é o lar deles. Reconhece diferenças culturais significativas, como os valores familiares e hábitos alimentares. Ele observa que os chineses são mais coletivos e pragmáticos em comparação aos brasileiros, que são mais espontâneos e emocionais.
Ele e sua esposa compartilham o trabalho e, mesmo com choques culturais, percebem que essas diferenças enriquecem suas vidas: "Essas discussões ajudam a compreender melhor as nuances de cada cultura."
No casamento, as diferenças se manifestam na forma de demonstrar carinho. Taichi explica que, no Brasil, a afetividade é mais explícita, enquanto na China é expressa através de ações práticas.
Gilson da Rosa, 52 anos, tradutor e intérprete, vive na China desde 2006 e é casado com uma chinesa. Ele observa choques culturais externos, como o hábito dos chineses de comer com a boca aberta, mas procura entender a prática.
Embora haja diferenças, ele acredita que o amor e o respeito sempre prevalecem: "As diferenças causam brigas, mas sabemos que isso não impede nossa felicidade."
Gilson, co-proprietário da America International Tourism, comenta sobre o desperdício de comida em celebrações e reconhece que não mudará a cultura de sua esposa.
Ele estuda mandarim desde 1997, mas utiliza o inglês para se comunicar quando necessário. Além disso, menciona que a diferença cultural pode causar constrangimentos, como na sinceridade direta dos chineses em reuniões familiares.