OPINIÃO. Por que a globalização foi boa – e tarifas são um perde-perde
O debate sobre os impactos da globalização nas economias desenvolvidas ganha nova perspectiva com a análise de Jagdish Bhagwati. Apesar dos avanços, o aumento do protecionismo e da desigualdade acentua os desafios enfrentados pelos países ocidentais.
Em 2004, o economista Jagdish Bhagwati publicou o livro In Defense of Globalization, inspirado pelos protestos antiglobalização de 1999, destacando como a globalização pode ser uma solução para problemas sociais.
Bhagwati argumenta que, ao contrário das críticas, a globalização é uma alavanca poderosa para reduzir a pobreza, trabalho infantil, e promover empreendedorismo feminino. Ele considera a OMC uma parte essencial da solução.
A globalização avançou desde então: entre 1986 e 2008, a corrente de comércio mundial sobre o PIB global subiu de 35% para 61%. Em particular, o comércio internacional cresceu três vezes mais que o PIB na década de 1990.
De 1995 a 2022, a taxa de pobreza nos países em desenvolvimento caiu de 40,1% para 10,6%, e sua participação nas exportações globais aumentou de 16,5% para 32,2%.
Apesar desses ganhos, o protecionismo aumentou desde a crise financeira de 2008, principalmente nas economias desenvolvidas, em meio à ascensão da China e questões como desigualdade de renda e perda de empregos no setor manufatureiro.
Este cenário gerou um sentimento antiglobalização e influenciou preferências eleitorais, especialmente na Europa e nos EUA. Duas questões se destacam:
- O comércio internacional é o culpado pela desigualdade social e perda de empregos?
- É possível corrigir déficits comerciais com tarifas de importação?
Dados mostram que a desigualdade e perda de empregos já ocorriam há décadas. Nos EUA, a tendência de queda de empregos na manufatura começou antes da ascensão da China.
A imposição de tarifas não resolve problemas comerciais. A balança comercial reflete a relação entre poupança e investimentos. Os EUA, com baixa poupança, têm um déficit comercial estrutural.
Argumentos contra a globalização carecem de base empírica. A OMC precisa de reformas para se adequar ao comércio contemporâneo. Bhagwati afirma que, com governança adequada, a globalização pode gerar prosperidade global, enquanto a falta dela pode levar a guerras comerciais.
Lucas Ferraz é ex-Secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia e Coordenador do Centro de Estudos de Negócios Globais da FGV.