OPINIÃO. Um País de Odete Roitmans
A nova versão de Vale Tudo revela a normalização da corrupção e da ambição desmedida na sociedade contemporânea. As escolhas morais que antes eram criticadas na ficção agora se tornaram práticas comuns na vida pública e privada.
Remake de Vale Tudo revela a degradação ética atual
A novela Vale Tudo, lançada em 1989, abordou uma sociedade em crise ética com personagens marcantes: Maria de Fátima, a jovem ambiciosa, e Odete Roitman, a empresária corrupta.
Na trama original, ambas chocaram a audiência ao traírem mães e manipularem pessoas para expressar a degradação moral dos anos 80.
Agora, o remake da TV Globo não gera o mesmo impacto. O Brasil enfrentou diversas crises políticas, como o impeachment de Collor e a Lava Jato, resultando em erosão da confiança nas instituições.
Comportamentos antiéticos se tornaram aceitáveis, transformando a atitude de Maria de Fátima em um modelo para jovens em busca de fama a qualquer custo através das redes sociais.
A Odete de hoje é admirada em círculos empresariais; a imoralidade nos negócios é premiada. A figura dela evoluiu para um “executivo de sucesso” no Brasil.
Na política, o cenário é semelhante, com líderes eleitos mais pelo impacto nas redes sociais do que por compromisso público. O debate foi substituído pela polarização.
Os limites entre público e privado se confundem; é um reflexo das novas dinâmicas de protagonismo e falta de valores éticos.
Entretanto, a verdadeira liderança envolve dignidade, humildade e diálogo respeitoso, não apenas a busca pelo poder.
As reações ao remake sinalizam que aceitamos o que antes criticávamos. A pergunta “Vale tudo mesmo?” passou a ser uma resposta.
É crucial reconhecer que a erosão ética é resultado de escolhas e omissões. Resgatar a importância do caminho ético para o sucesso é essencial para evitar a repetição da história.
Por Andrea Matarazzo, ex-ministro e embaixador.