‘Política de Trump é meio desastrada, mas talvez tenha efeito colateral positivo’, diz Samuel Pessôa
Pesquisador aponta que a política tarifária de Trump é antiquada e pode resultar em isolamento econômico. Ele destaca a necessidade da China em investir em bem-estar social para estimular o consumo interno.
Samuell Pessôa, pesquisador do FGV/Ibre, critica a política tarifária de Donald Trump, classificando-a como antiquada e a equipe econômica americana como amadora.
Em entrevista, Pessôa afirma que o uso de tarifas para arrecadação é ultrapassado e que as mudanças no mercado de trabalho são impulsionadas pelo progresso tecnológico, não pelo comércio.
Na quarta-feira, 9, Trump anunciou uma interrupção das tarifas recíprocas por 90 dias, mas aumentou o imposto sobre importações chinesas para 125%. Pessôa vê um possível efeito colateral positivo, sugerindo que isso pode forçar a China a investir mais em bem-estar social e estimular o consumo interno.
Ele destaca que a disputa de Trump é maior com a China, devido a seu superávit com os EUA e alta taxa de poupança. Pessôa acredita que a globalização e a desglobalização ocorrem cíclicamente e que o Brasil será menos afetado que outros países devido à sua isolação em cadeias de valor globais.
Pessôa menciona que a desindustrialização nos EUA resulta da especialização em setores inovadores, como o Vale do Silício. Ele critica a visão nostálgica de uma América industrial retrógrada.
Sobre a política de Trump, Pessôa enfatiza que, apesar de desastrada, pode ter um resultado positivo ao incentivar a China a aumentar seu gasto social e reduzir a poupança. No entanto, ele questiona se as tarifas podem produzir os efeitos desejados e destaca a necessidade de um reequilíbrio entre as economias chinesa e americana.
Por fim, Pessôa critica a equipe econômica de Trump e sua falta de racionalidade institucional, afirmando que isso mina a capacidade dos EUA de serem o porto seguro global.