Por que a indústria eólica no Brasil enfrenta uma ‘crise dentro da crise’
Setor eólico enfrenta crise severa com queda na demanda e cortes de geração forçada, segundo a Abeeólica. Com impactos diretos na produção e vendas, a situação é considerada insustentável pelos executivos da indústria.
A indústria eólica brasileira enfrenta uma situação “insuportável” devido ao baixo crescimento da demanda e excesso de oferta de energia. A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, afirmou que o setor, que teve um crescimento expressivo desde 2009, viu seu ciclo interrompido em 2022, com uma queda de 32% na instalação de nova capacidade de geração.
A expectativa é de uma retração de 39% para 2025. Gannoum relaciona essa queda com a economia brasileira, onde um crescimento do PIB de 1% resulta em uma demanda de energia de 1,5% a 2%.
A Abeeólica representa mais de 130 empresas do setor e enfrenta crise agravada pelo “curtailment”, que é o corte forçado de geração devido ao excesso de oferta. O sistema elétrico brasileiro tem visto sua capacidade descontrolada devido à expansão da micro e minigeração solar.
Gannoum alerta que isso resulta em prejuízos significativos, com muitos fornecedores da cadeia eólica enfrentando sérios problemas e elevando as importações de equipamentos. A situação é tão crítica que muitas geradoras centralizadas estão investindo em geração distribuída (GD).
Muitas empresas já enfrentam uma conta acumulada de R$ 6 bilhões desde 2022 por conta da impossibilidade de gerar energia conforme os contratos. A Abeeólica já entrou com ação judicial para receber esses pagamentos.
Para Gannoum, a solução para o curtailment poderia “destravar a indústria” e melhorar o clima no setor. Ela observa que as altas taxas de juros e a incerteza global também agravam a situação.
Apesar do cenário desafiador, há uma perspectiva de retomada global dos investimentos em energias renováveis, e acredita-se no potencial do Brasil para se tornar um fornecedor de soluções para o mundo.