Por que o governo decidiu adotar modelo de meta contínua para a inflação? Entenda
Inflação acumulada em 12 meses supera o teto da meta pela sexta vez consecutiva, dando origem a novas explicações do Banco Central. Novo modelo de meta contínua busca maior flexibilidade na política monetária em comparação ao sistema anterior.
Resultado do IPCA de junho, divulgado nesta quinta-feira, às 9 horas, marcará a primeira vez que a inflação descumprirá a meta contínua.
O novo modelo, implementado em janeiro de 2025, foi estabelecido em meados de 2024, após discussões que começaram antes. Desde 2023, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendia publicamente essa mudança.
Até o ano passado, a meta da inflação era verificada ao fim de cada ano. Se o índice em 12 meses superasse o limite, o Banco Central (BC) redigia uma carta explicando os motivos e as medidas adotadas. O atual presidente do BC, Gabriel Galípolo, já escreveu uma carta por causa do resultado de 2024.
O novo modelo exige que o BC redija uma carta se a inflação ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses seguidos. A meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3,0%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual.
Com a nova sistemática em vigor, a inflação acumulada em 12 meses já está em 4,56%, indicando o sexto mês fora do limite. Este modelo foi confirmado por decreto em junho de 2024, após ter sido divulgado em junho do ano anterior.
Haddad argumenta que a meta contínua é mais flexível, permitindo que o BC busque a meta sem depender de um calendário fixo. Ele compara o novo modelo ao que é feito pelo Federal Reserve (Fed) nos Estados Unidos, onde a meta é de 2% a longo prazo sem um período específico.
O economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, destaca que a meta contínua permite ao BC reagir mais rapidamente a choques econômicos.
A expectativa é que Galípolo continue redigindo cartas até que a inflação atinja o teto da meta. A previsão da Monte Bravo é de inflação de 5,5% ao final de 2025 e 4,5% em 2026.