Pressão de Trump terá efeito contrário? A reação do mercado ao caso Lisa Cook no Fed
A demissão de Lisa Cook pelo presidente Trump gera tensão nos mercados e levanta questões sobre a independência do Federal Reserve. Investidores reagem a possíveis mudanças na política monetária e seu impacto na inflação e nas taxas de juros.
Mercados globais reagiram nesta terça-feira (26) à pressão de Donald Trump, presidente dos EUA, para demitir a diretora do Federal Reserve, Lisa Cook, cujo mandato vai até 2038.
Em Wall Street, índices operavam com leve baixa, enquanto o Ibovespa caía cerca de 0,54%, a 137.265 pontos.
A tensão entre Trump e o Fed aumentou após o anúncio da demissão de Cook, sustentada por alegações de declarações falsas em formulários de hipotecas. Cook recusa-se a abandonar o cargo.
Além disso, Trump anunciou tarifas de 25% sobre produtos da Índia, impulsionado pelas importações de derivados de petróleo da Rússia.
Segundo Ipek Ozkardeskaya, analista do Swissquote Bank, as alegações de fraude não são o verdadeiro motivo para o ataque a Cook, que criticou as tarifas de Trump por seu impacto inflacionário.
A independência do Fed está em jogo, o que pode afetar a confiança nos EUA como referência em mercados de capitais. Na última sexta-feira, o mercado reagiu positivamente ao discurso de Jerome Powell, presidente do Fed, sobre possíveis cortes de juros.
Andressa Durão, economista do ASA, destaca que nunca houve demissão por justa causa de um diretor do Fed, e Cook poderia contestar a demissão judicialmente, postergando a decisão.
José Faria Júnior, da Wagner Investimentos, observa que Trump, ao conseguir a maioria no Fed, poderia enfraquecer Powell e aumentar juros a longo prazo, gerando efeitos contrários a seus interesses.
A curva de rendimentos nos EUA se acentuou, com taxas de prazos longos subindo e curtos caindo, refletindo o descontentamento com a influência política sobre o Fed. O rendimento da nota de 2 anos caiu para 3,706%, enquanto o de 10 anos subiu para 4,287%.
Com a aproximação da reunião do Fed em setembro, o mercado antecipava cortes nos juros, dependendo dos dados de emprego e inflação de agosto. Durão aponta a perda de credibilidade e insegurança jurídica, mas acredita que o mercado deve superar essas preocupações em breve.