Quem foi Marco Aurélio — e por que imperador romano virou guru dos coaches das redes sociais
A obra de Marco Aurélio, embora escrita como reflexões pessoais, se transforma em um guia popular para enfrentamento de desafios modernos. Especialistas alertam, no entanto, que essa apropriação contemporânea distorce as profundezas do estoicismo e o contexto de suas Meditações.
Marco Aurélio, imperador romano e filósofo estoico, escreveu suas Meditations no século II, sem previsão de publicação. Suas reflexões serviam como autoconselhos em contexto de guerra e epidemias.
O estoicismo ensina que a virtude leva à eudaimonia (felicidade), sendo resumido em sabedoria, coragem, temperança e justiça. A obra de Marco Aurélio, dividida em 12 livros, apresenta lições de resiliência e aceitação do destino (amor fati) e a brevidade da vida (memento mori).
Ele aborda que os obstáculos são oportunidades de crescimento e que o sofrimento deve ser encarado como uma avaliação pessoal.
O estoicismo ganhou popularidade recente, interpretado por figuras como Ryan Holiday, que associam a filosofia a práticas de alta performance e individualismo, distorcendo seus princípios. O filósofo Aldo Dinucci indica que essa releitura ignora a reintegração do ser humano à natureza e a noção de fraternidade.
O psicólogo Rodrigo Nascimento critica a prática de coaches que reduzem o estoicismo a técnicas de autoajuda, desconsiderando seu compromisso ético e comunitário.
A biografia de Marco Aurélio, rica em desafios pessoais e políticos, ilustra um líder que utilizava suas meditações como reflexões profundas sobre a vida, ética e o papel do poder em tempos de crise.
Esses aspectos mostram que suas anotações pessoais não devem ser confundidas com manuais contemporâneos. O estoicismo original buscava a moralidade e vivência em harmonia com a sociedade, não sua redução a fórmulas de sucesso.