Salvar a web pré-IA: alerta vermelho ao futuro do conteúdo?

Iniciativa de John Graham-Cumming visa arquivar textos, imagens e sons humanos antes da era dos algoritmos, questionando se estamos apenas romanticizando o passado ou salvando algo essencial para o futuro da cultura digital.

A internet, outrora espaço de expressão autêntica, agora é dominada por conteúdos gerados por IA. Essa produção frequentemente carece de propósito, autoria ou destinatário.

A preocupação vai além do acervo: é sobre a possibilidade de distinguir criações humanas de ruídos sintéticos. A ideia de autoria e intenção corre o risco de se dissolver em meio à produção automática.

A história demonstra que mudanças na produção de conhecimento geram crises. A transição do latim para outras línguas, por exemplo, não apenas trocou idiomas, mas reconfigurou os circuitos do saber, gerando exclusões e pertencimentos.

Da mesma forma, a prensa de Gutenberg causou uma revolução ao substituir manuscritos únicos por livros impressos. Isso levou ao acesso à informação, mas também à padronização e à perda de aura.

A explosão de conteúdos gerados por IA é continuidade e ruptura, diluindo a noção de autoria e intenção. Graham-Cumming busca preservar a memória de um tempo em que criar era um ato humano, situacional e carregado de significado.

A IA embaralha a noção de verdade, originalidade e valor. O desafio é preservar a memória e criar mecanismos para salvar a autoria e a intenção.

O arquivamento do “antes da IA” demanda vigilância, evitando que a próxima metamorfose do texto resulte apenas em vazio. A questão é: conseguiremos reinventar e preservar o valor do conteúdo humano diante da avalanche algorítmica?

O arquivo humano não é apenas um relicário do passado, mas um farol para o futuro da criatividade e da identidade digital.