Transição energética não será suficiente contra mudanças climáticas, diz economista
Janez Potocnik defende a desmaterialização da economia como solução para as crises ambientais e sociais. Ele enfatiza a importância de repensar o consumo e a produção para reduzir a pegada de materiais e promover a economia circular.
Discussões sobre mudanças climáticas devem incluir não apenas pegadas de carbono e transição energética, mas também a desmaterialização da economia e a "pegada de materiais", que mede o consumo de recursos naturais.
Janez Potocnik, economista esloveno e copresidente do Painel Internacional de Recursos da ONU, defende que a economia circular substitui o modelo linear atual, priorizando a circulação de materiais e regeneração de ecossistemas.
A crise do lixo, com 2 bilhões de toneladas de resíduos descartadas anualmente, deve aumentar quase 80% até 2050, agravando as emissões de gases de efeito estufa. A extração de materiais subiu de 30 bilhões de toneladas em 1970 para 106,6 bilhões em 2024.
Potocnik destaca que o uso de recursos per capita em países de alta renda é seis vezes maior do que em países de baixa renda e seu impacto nas mudanças climáticas é dez vezes maior. Ele defende que desmaterializar a economia é essencial para o futuro.
Durante o Fórum Mundial de Economia Circular em São Paulo, Potocnik questionou a ineficiência no uso de recursos, alertando que seis dos nove limites planetários já foram ultrapassados. “Mudanças climáticas acontecem mais rapidamente do que a ciência previu”, afirma.
Ele enfatiza a necessidade de modelos de negócio baseados em serviço e critica a visão anterior de sucesso ligada à propriedade de bens materiais. A transição energética sozinha não é suficiente; é necessário questionar o uso de recursos e padrões de produção.
Potocnik aponta que o PIB não deve ser a única métrica de sucesso econômico. É necessário integrar bem-estar, equidade e justiça social nas políticas, além de garantir que o crescimento não destrua a natureza.
Ele acredita que mudanças sistêmicas e estruturais são necessárias e que a regulamentação é crucial para o desenvolvimento da economia circular. O Brasil, como anfitrião da COP30, tem a responsabilidade de liderar essa agenda.